sexta-feira, 25 de julho de 2014

Artes - A arte moderna


Há controvérsias sobre os limites temporais do moderno e alguns de seus traços distintivos: como separar clássico/moderno, moderno/contemporâneo, moderno/pós-moderno. Divergências à parte, observa-se uma tendência em localizar na França do século XIX o início da arte moderna. A experiência urbana - ligada à multidão, ao anonimato, ao contingente e ao transitório - é enfatizada pelo poeta e crítico francês Charles Baudelaire (1821 - 1867) como o núcleo da vida e da arte modernas. O moderno não se define pelo tempo presente - nem toda a arte do período moderno é moderna -, mas por uma nova atitude e consciência da modernidade, declara Baudelaire, em 1863, ao comentar a pintura de Constantin Guys (1802 - 1892). A modernização de Paris - traduzida nas reformas urbanas implementadas por Haussmann, entre 1853 e 1870 - relaciona-se diretamente à sociedade burguesa que se define ao longo das revoluções de 1830 e 1848. A ascensão da burguesia traz consigo a indústria moderna, o mercado mundial e o livre comércio, impulsionados pela Revolução Industrial. A industrialização em curso e as novas tecnologias colocam em crise o artesanato, fazendo do artista um intelectual apartado da produção. "Com a industrialização, esse sistema entra em crise", afirma o historiador italiano Giulio Carlo Argan, "e a arte moderna é a própria história dessa crise."

O rompimento com os temas clássicos vem acompanhado na arte moderna pela superação das tentativas de representar ilusionisticamente um espaço tridimensional sobre um suporte plano. A consciência da tela plana, de seus limites e rendimentos inaugura o espaço moderno na pintura, verificado inicialmente com a obra de Éduard Manet (1832 - 1883). Segundo o crítico norte-americano Clement Greenberg, "as telas de Manet tornaram-se as primeiras pinturas modernistas em virtude da franqueza com a qual elas declaravam as superfícies planas sob as quais eram pintadas". As pinturas de Manet, na década de 1860, lidam com vários temas relacionados à visão baudelairiana de modernidade e aos tipos da Paris moderna: boêmios, ciganos, burgueses empobrecidos etc. Além disso, obras como Dejeuner sur L´Herbe [Piquenique sobre a relva] (1863) desconcertam não apenas pelo tema (uma mulher nua, num bosque, conversa com dois homens vestidos), mas também pela composição formal: as cores planas sem claro-escuro nem relevos; a luz que não tem a função de destacar ou modelar as figuras; a indistinção entre os corpos e o espaço num só contexto. As pesquisas de Manet são referências para o impressionismo de Claude Monet (1840 - 1926), Pierre Auguste Renoir (1841 - 1919), Edgar Degas (1834 - 1917), Camille Pissarro (1831 - 1903), Paul Cézanne (1839 - 1906), entre muitos outros. A preferência pelo registro da experiência contemporânea, a observação da natureza com base em impressões pessoais e sensações visuais imediatas, a suspensão dos contornos e dos claro-escuros em prol de pinceladas fragmentadas e justapostas, o aproveitamento máximo da luminosidade e uso de cores complementares favorecidos pela pintura ao ar livre constituem os elementos centrais de uma pauta impressionista mais ampla explorada em distintas dicções

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