Bolsa de Arte de Porto Alegre apresenta obras de Túlio Pinto, Martha Gofre e do grupo Ío
Exposição com artistas não representados pela galeria, "Tohu Wa-Bohu" reúne trabalhos que lidam com a força plástica das leis naturais
por Francisco Dalcol
Foto:
Anderson Astor / Divulgação
As leis da natureza incidindo como força invisível em
situações de limite e tensão. "Tohu Wa-Bohu" apresenta obras criadas no
embate com os fenômenos físicos. A exposição da Bolsa de Arte voltada a
nomes não representados pela galeria reúne Túlio Pinto, Martha Gofre e o
grupo Ío, formado por Munir Klamt e Laura Cattani. São artistas com
diversas exposições, prêmios, projetos e residências realizadas nos
últimos anos. Neste sábado (28/6), às 11h, eles promovem um encontro com
lançamento de catálogo. A mostra segue até 11 de julho.
Tohu Wa-Bohu é uma expressão encontrada na Bíblia.
Aparece em algumas passagens do Gênesis, referindo-se ao vazio e às
ausências de tempo e forma que antecedem a origem. Aplicado à exposição,
convida a pensar a relação do caos e da desordem com a criação
artística.
São apresentados 12 trabalhos produzidos desde 2004 e
que, reunidos, diluem zonas de distinção entre escultura, instalação,
fotografia e performance. O ponto alto da exposição é evidenciar
afinidades não imediatas entre os diferentes trabalhos.
Na entrada da galeria, Túlio Pinto apresenta "Nadir #
7", com uma grande lâmina de vidro que se mantém inclinada e estática
por força de um sistema de cordas equilibrado pelo peso de duas pedras.
Há tensão tanto no contraste de materiais rígidos e frágeis quanto no
ponto de estabilidade da estrutura, que parece prestes a cair. Na
produção de Túlio, são recorrentes os trabalhos em que coloca as coisas
em estado de suspensão. É o que ele também faz em "Compensação # 3",
novamente com uma grande lâmina de vidro, que atravessa o interior de um
cubo de aço vazado e se apoia na lateral de outro cubo, formando uma
nova situação em equilíbrio.
A montagem da exposição favorece diálogos dessas obras
de Túlio com as do Ío. Em "Princípios do Mundo: Nostalgia", a dupla
apresenta uma estrutura de vidro e aço presa à parede, por onde vazou
uma considerável quantidade de chocolate branco, quando aquecido e
líquido _ e que deixou corrimentos e acúmulos no chão antes de se
estabilizar em forma sólida. Com um viés conceitual que recorre a
diversos campos do conhecimento, a produção que Munir e Laura assinam
conjuntamente sob pseudônimo Ío envolve processos que eles não dominam
por completo e que os levam a explorar o acaso e a probabilidade. É o
que se constata também na série de fotografias "Halo L", em que
registram uma ação no litoral. Na beira do mar, pedaços irregulares de
vidro são encravados na areia, como que rasgando a água no movimento de
quebra e ir e vir das ondas.
Esse viés de enfrentar as forças da natureza aparece nos
trabalhos de Martha Gofre. No vídeo da performance "O Último Camelo",
ela tenta puxar por cima do peitoril de uma janela uma série de bexigas
de água presas a sua cintura, às costas. Ao longo das repetidas
tentativas de esforço para caminhar e, assim, erguer o peso do conjunto,
alguns dos balões vão estourando. Novamente, há aqui na exposição a
ideia de tensão, mas desta vez sem a busca de um ponto de equilíbrio ou
estabilidade. Martha explora os limites e se condiciona às
consequências. É o que se vê também na sua série "Intervalo", uma
sequência de fotos que mostra duas mãos segurando o que parece ser um
rosário de gelo que vai se derretendo.
Além do chocolate e da água, respectivamente nos
trabalhos do Ío e de Martha, o efeito das trocas térmicas, e a
consequente implicação de tempo nas passagens entre estados físicos,
aparece em uma das obras de Túlio. Produzida em sua residência no início
do ano em Donetsk, no sudeste da Ucrânia, "Waiting Room" mostra duas
fotos do que parece ser um bunker ocupado por cadeiras enfileiradas e
alinhadas como soldados de um exército. Na primeira imagem, o conjunto
de assentos está harmonicamente inclinado para o mesmo lado por conta
dos blocos de gelo colocados como calços. Na segunda foto, as cadeiras
aparecem na posição normal no solo, e as poças de água formadas no chão
indicam que o processo de derretimento devolveu a estabilidade ao
conjunto. Entre o primeiro e o último registro, passaram-se 18 dias.
De outra residência no Exterior, desta vez na Holanda,
Túlio apresenta um trabalho para o qual elaborou uma espécie de
escultura móvel e maleável formada por balões alaranjados com gás hélio.
Ao ar livre, a estrutura está sempre em movimento. Túlio levou o
trabalho para alto de um castelo e gravou um vídeo. Ao enquadrar uma
paisagem formada por céu e horizonte, colocou os balões em frente à
câmera e registrou uma espécie de movimento coreografado pelo efeito de
flutuação na gravidade. Do ponto de vista da história da arte, que
alimenta tantas colagens, pastiches e releituras contemporâneas, o
trabalho remete a um dos grandes marcos artísticos da Holanda, a pintura
de paisagem do século 17.
Reunindo obras aparentemente simples, mas com soluções
complexas, a exposição "Tohu Wa-Bohu" apresenta um conjunto de trabalhos
experimentais de artistas que concatenam o mundo físico em força
plástica.
TOHU WA-BOHU> Galeria Bolsa de Arte (Rua Visconde do Rio Branco, 365), em Porto Alegre. Fones (51) 3332-6799 e 3331-6459
> De segunda a sexta, das 10h30 às 19h, e sábado, das 10h às 13h30. Até 11/7
> Neste sábado (28/6), às 11h, os artistas promovem um encontro com lançamento de catálogo
> De segunda a sexta, das 10h30 às 19h, e sábado, das 10h às 13h30. Até 11/7
> Neste sábado (28/6), às 11h, os artistas promovem um encontro com lançamento de catálogo
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