terça-feira, 1 de abril de 2014

Organizadora de campanha contra estupro recebe ameaças na web

Organizadora de campanha contra estupro recebe ameaças na web

Pesquisa constatou que a maior parte dos brasileiros acredita que as mulheres são responsáveis por sofrerem abusos sexuais. 

Um assunto tomou conta das redes sociaisneste fim de semana: a reação ao resultado de uma pesquisa nacional sobre estupro. Essa pesquisa constatou que a maior parte dos brasileiros acredita que as mulheressão responsáveis por sofrerem abusos sexuais. E elas decidiram não ficar caladas.
campanha tem três dias. Começou com uma foto da organizadora, a jornalista Nana Queiroz.

Rápido, milhares de pessoas - mulheres, homens, famílias inteiras - se mobilizaram e aderiram ao pedido de dar um basta à violência sexual. E, com a mesma força, vieram respostas que Nana não imaginou: ofensas e até ameaças.
“Cinco minutos depois eu já tinha uma ameaça de estupro, dez minutos depois eu já estava num site pornô pedindo para ser estuprada, minha foto manipulada. Eu estava com os braços escritos – ‘não mereço ser estuprada’. Eles apagaram o ‘não’ - e colocaram ‘mereço ser estuprada’", conta a jornalista.

As mensagens são muito agressivas, algumas defendem a prática do crime de estupro. Um deles deixou a jornalista, particularmente chocada: num perfil, que já foi apagado, um homem disse que já tinha cometido o crime e faria de novo. Ela decidiu dar queixa na Delegacia da Mulher. E espera que os responsáveis sejam localizados e punidos. 

A campanha começou como reação aosresultados de uma pesquisa do Ipea - oInstituto de Política Econômica Aplicada: 3.800 pessoas foram ouvidas em todo o país.
Nela, 61,5% dos entrevistados disseram que as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas e 58,5% afirmaram que se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros. E as mulheres foram mais da metade dos entrevistados para a pesquisa.
Daniel Cerqueira, coordenador da pesquisa, diz que a principal conclusão é que a sociedade brasileira está impregnada pela cultura machista.
“A primeira coisa que temos que fazer, acredito, é trazer à tona esse problema que muitas vezes está escondido embaixo do tapete, está encerrado entre quatro paredes e falar para a mulher o seguinte: que ela não é culpada, ela é sempre a vítima. E por que isso é importante? Porque centenas de vítimas simplesmente não vão prestar queixa à polícia, porque elas vão achar que elas que na verdade fizeram alguma coisa, que facilitaram e vão ser mal vista na sociedade”, disse o pesquisador.
Para fazer o estudo, os pesquisadores tiveram acesso a dados que mostraram que mais de 500 mil pessoas por ano são vítimas de estupro no Brasil. Sofrem, inclusive, estupros coletivos e a polícia só toma conhecimento de 10% desses casos. Das mulheres que aderiram à campanha que pede, na internet, o fim da violência sexual, centenas contaram ter sido ameaçadas.
Mesmo sendo ameaças virtuais, Nana acredita que elas têm que ser denunciadas.
“Mulher que tomou essa ameaça vá a delegacia, faça a sua denúncia, ganhe proteção da polícia, do seus amigos. Eu acho muito importante que isso aconteça para que esse movimento não sirva, ninguém tire vantagem dele para se vingar da atitude feminina estuprando”, destaca.
É uma causa em que todos são bem-vindos. “Acorda, garota, seu corpo é seu, você fazer o que quiser com ele. Você pode usar saia curta, você pode usar burca, você ser religiosa ou ateia, se vestir conforme suas crenças. Ninguém tem direito de te violentar por isso”, defende.

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